Olhares de maio
Maio maduro Maio Quem te pintou Quem te quebrou o encanto Nunca te amou Raiava o Sol já no Sul E uma falua vinha Lá de Istambul Sempre depois da sesta Chamando as flores Era o dia da festa Maio de amores Era o dia de cantar E uma falua andava Ao longe a varar Maio com meu amigo Quem dera já Sempre depois do trigo Se cantará Qu'importa a fúria do mar Que a voz não te esmoreça Vamos lutar Numa rua comprida El-rei pastor Vende o soro da vida Que mata a dor Venham ver, Maio nasceu Que a voz não te esmoreça A turba rompeu |
Lembranças que jamais se esquecem
Cada vez que me lembro da minha infância, lá está Vale de Porco.Depois de se passarem tantos anos ausente, continua viva a imagem bonita de tantas lembranças que nunca se esquecem.
Gostaria de passar um ano inteirinho por lá para poder desfrutar de todas a estações do ano, pois cada uma tem a sua beleza.
Quando chega a Primavera com suas flores, as amendoeiras e cerejeiras são um espetáculo!. O Verão com a segada dos trigos, e nessa época tinha as parvas. Ah como eu gostava de andar trilhando nas eiras! Mas o melhor era a merenda que as nossas mães levavam. Era muito bacalhau frito, queijo, presunto e outras guloseimas. Depois vinha o Outono com ventos e o cair das folhas. Já esfriava um pouquinho. Mas o pior era o Inverno.Quantas vezes eu me lembro de ver o meu pai tirando neve da porta de casa!. Mas tudo era farra. Tinha o natal, a matança dos porcos, onde se reunia toda a família e era muito bom.
Quando fiz 16 anos meus pais resolveram vir para o Brasil. Uns dias antes da viajem fomos nos despedir da minha avó paterna que morava na Parada. Nessa altura o meu pai já tinha vendido os animais e pedimos para minha tia Adelaide a burra emprestada, para poder levar castanhas para minha avó. Quando chegamos no rio Sabor, existia uma barca para atravessar quando o rio estava muito grande. Mas a danada da burra não entrou e tivemos que deixá-la num casarão sem telhado e sem portas. Só tinha paredes.
Tivemos então que fechar a entrada com galhos de estevas e ali ficou até o dia seguinte, na ladeira de Meirinhos. Nós seguimos a pé até a Parada muito preocupados, com medo do que poderia acontecer com o animal. No dia seguinte voltamos e lá estava a burra, com fome e toda suja de barro, mas viva, para nossa alegria! Não tivemos duvida, pegamos água no rio e lavamos o animal para a minha tia Adelaide não saber de nada. Alguns dias depois, chegou a hora de vir para o Brasil, só que ela nunca soube dessa história!
Hoje estou neste país que nos acolheu como seus próprios filhos, mas nunca esquecemos as boas lembranças do passado.
Postais de Natal
Autor: Isaias Cordeiro
Olá primas e primos. Não é fácil reunir fotos de toda a gente e neste caso concreto das seis irmãs. Toda vida as quis juntar num franco convívio fosse onde fosse. Qualquer recado dava para pelo menos uma vez na vida termos o prazer de ver as irmãs juntas e ter ao seu lado os mais chegados e no maior numero possível.Também não precisávamos de banquete nenhum, bastava o amor que todos sempre demos uns aos outros. Nunca consegui juntar mais que as residentes em Castelo Branco. As restantes, visitava-as de quando em vez e quando me era possível.
Lamentava não concretizar a minha vontade que a todos transmitia, sempre que se arranjavam desculpas e o tempo foi passando. Afinal os nossos encontros não tardaram! Uma a uma as fomos acompanhando para a sua ultima morada. Olhando para as suas campas meditava: aqui jaz mais uma irmã. Resta-nos a minha mãe, breve terá 92 anos e ainda com alguma força de viver.
Não as juntei em vida por ser difícil, juntei-as desta forma que também não foi nada fácil.
1ª foto: Elvira - Vilar do Rei
2ª foto: Natividade - Zava
3ª foto: Gracinda, Maria e Idalina
4ª foto: Denérida acompanhada do marido (Tio Jaime, entre eles o neto Rui, filho da Rita e Américo).
A Cris pediu uma foto dos Bisavós, fiz-lhe a vontade e espero que todos gosteis desta pequena lembrança numa quadra tão linda que é o Natal.
Despeço-me num até breve desejando-vos a todos um Santo Natal e um Ano Novo cheio do melhor.
Abraços
Album de Fotografias
- Fotografias nos trazem lembranças do passado, que se em preto e branco, colorimos com a saudade dos tempos de criança. Queremos deixar nosso mundo mais alegre. Queremos saber como somos e como eramos. Por isso, solicitamos que ajudem a enriquecer nosso album e as lembranças de cada um, com o envio de fotos dos familiares ou de locais da nossa aldeia, se possivel, devidamente identificadas.
Familia do Sr. Narciso Geraldes depois de alguns anos já no Brasil
Fotos da Memória
Ao ler a tua crônica minha casa da Aldeia, começaram a aparecer as fotos em minha memória
1ª foto - Uma casa Grande de 1950 em uma esquina com os beirais cheios de andorinhas chilreando no verão
2ª foto – Á frente da casa o bosque de olmos cortado por uma ribeira,
3ª foto – para atravessar a ribeira, uma minúscula ponte de pedra.
4ª foto - Entre a casa e a ribeira, no olmo mais alto, o ninho da cegonha e ao lado desse olmo uma pequena lagoa que secava no verão
5ª foto – Os ciganos acampados na lagoa seca e entre os olmos, as redes que eram suas camas
6ª foto – O carro-de-bois do meu pai estacionado em baixo no olmo da cegonha
7ª. foto – Um pastor com suas ovelhas passando na esquina da nossa casa a caminho da corte
8ª. foto - duas cabritas caminhando em cima das paredes em direção às eiras e a dona delas gritando Tchibas...
9ª. foto – Um grupo de aldeãs batendo com uma soca o linho na pontezinha de pedra
10ª.foto- A casa grande da esquina toda enfeitada com colchas na janela para receber a bênção da Páscoa
11ª. foto – Os olmos todos cobertos de neve no inverno e a ribeira que congelou
12ª.foto - Eu, minha prima Graça e minha irmã em baixo da amoreira, pintando a cara com as amoras
13ª.foto – Um lavrador passando em frente à casa com seu carro de bois puxado por uma junta
14ª.foto – minha mãe com um cântaro cheio de água nos ombros atravessando a ponte
15ª. foto – Um fotógrafo tirando a única foto que tenho de infância em frente à casa e vejo a minha avó à janela e que não quis ser fotografada
16ª. foto – A casa cheia de gente num dia de temporal, esperando os familiares que não puderam voltar das hortas e dos campos devido às enchentes
17ª. foto – A passagem na rua do Sr Evaristo com uma corda na mão a qual usou para em instantes se enforcar.
18ª. foto - A minha mãe toda feliz mexendo nos liços do seu tear.
19ª.foto - Dois rapazes parcialmente despidos dentro de uma grande arca a pisar as uvas para fazer o vinho na parte baixa da casa
20ª. foto - Meu pai com seu alambique a fazer aguardente ao lado da casa
21ª. foto – Uma noite todos reunidos lá fora olhando as estrelas, vimos uma estrela cadente
22ª. foto – O Fiel nosso cão, chegando antes, anunciando a chegada do meu pai de mais um dia de labuta
23ª foto. - O momento em que minha mãe entrou no quarto para me avisar que a minha avó.....
24a. foto.- A saída do meu pai junto com: Valério, Amadeo e Hermínio, que partiam para uma vida nova no Brasil
25a. foto - A chegada de uma carta e uma encomenda com vários presentes e 4 bananas, enviadas para nós pelo meu pai ainda no Porto
25ª. foto – A nossa saída da casa definitivamente para o encontro com o meu pai e ..... a partir daí, uma vida nova num lugar distante, sem a mesma graça e romantismo.
Minha casa na aldeia
Lembro-me vagamente de um grupo de homens, a cavar vigorosamente um terreno com leve aclive à beira do caminho já quase fora da aldeia. Ali seria construida uma casa nova Não havia ainda nenhuma construção na redondeza.
Enquanto os homens preparavam o terreno, ao longe já se ouviam os estrondos da pólvora a explodir as fragas de onde se extraíria o material básico necessário para a construção. Todas as casas eram feitas com grossas paredes de pedra..
A seguir, o vai e vem dos carros de bois cujo chiado denunciava a carga pesada. Acredito que toda a frota da aldeia estivesse em ação. O trabalho era muito mas todos ajudavam.
Não me lembro da subida das paredes nem da colocação do telhado mas do dia em que, já quase pronta, fomos visitar a obra . Minha irmã talvez tivesse apenas uns dois anos de idade. O assoalho estava quase pronto, faltavam uma tábua aqui e outra ali. Todos empolgados com a casa nova nem percebemos que as perninhas da pequena não alcançavam o vão e ela acabou caindo para o andar de baixo. Foi uma choradeira e uma correria. Mas felizmente não passou de um susto..
A casa era de bom tamanho para nossa família. .Além de meus pais com os três filhos pequenos ainda tinhamos conosco a minha avó e o tio Henrique que era irmão da minha mãe.
Até esta época viviamos na antiga casa que ficava à soalheira.
Na parte de cima da casa nova, por onde se chegava através de uma rampa externa, havia a entrecasa (hall) com ligação para a cozinha, a sala e os dormitórios.. Na parte inferior, as dependências naturais a todas as casas da aldeia.
Nesta parte, ficava a despensa e o tear . Minha mãe era uma excelente tecelã pois dali vi sair lindos tapetes, mantas de burell e colchas em lã de carneiro. Também lençóis do linho plantado, colhido e transformado pelas mãos das pessoas da família.
Aquele tear e sua localização eram providenciais. Minha mãe era tão alegre e falante que todos que por ali passavam paravam para descansar antes de chegar em casa e contar ou saber as novidades.
Ali ao lado, ficava o tonel do vinho. Era muito grande (talvez devido ao meu tamanho naquela época.). A seguir havia prateleiras com tãlhas de azeite,azeitonas, queijos, sacos de batatas, etc.
Esta entrada era adornada por uma roseira branca, trepadeira enorme que ia quase até o telhado e que emoldurava e perfumava todo o entorno da janela do nosso quarto.
Na cozinha havia dois grandes bancos de madeira em volta da lareira e o chupão tinha um corte na cantaria, que meu pai mandou fazer para não mais batermos a cabeça.
A sala era outro item à parte. Nela havia uma cristaleira com louças e uma enorme mesa de jantar Mas o que mais me marcou foi um quadro do Sagrado Coração de Jesus pendurado na parede. A imagem de Jesus nos fitava . De qualquer lugar da sala em que estivéssemos parecia que nos vigiava. Minha mãe usava esse recurso para nos assustar e nos manter comportados. No começo até funcionou pois cheguei a ter medo e até evitar ir sozinha à sala ....
Havia ainda uma porta com postigo em vidro que dava para a sacada e ao lado uma janela. Ali, no inverno, por detrás das vidraças, admirávamos a paisagem toda branquinha, dos dias e noites de neve. Viamos a gente a passar e a imprimir seus passos na brancura do caminho nevado.
Lá fora, além do muradal ao lado da casa, havia um belo jardim. Plantado pela Mãe Natureza.Era um bosque cheio de olmos e lá no alto de um deles, um ninho de cegonha. Havia um outro olmo também grande e oco e muito bom para brincadeiras.
Na primavera tudo ficava florido. Entre outras flores silvestres, tinhamos papoulas,violetas, estourotes, campainhas e margaridinhas com as quais através do trançado dos cabinhos fazíamos pulseiras e coroas para adornar as princesas ou cinderelas imaginárias.
Por entre os olmos havia um pequeno lago que no inverno congelava. Ali demos muitos tombos deslizando no carambelo.
Ao lado da ribeira havia uma amoreira que dava amoras muito grandes e suculentas e seus grandes galhos serviam de trampolim às nossas peripécias.
Na parte de trás da casa ficavam umas cortinhas reservadas ao cultivo de melões, dos mais perfumados que já vi. Estes terrenos eram delimitados, de um lado por frondosos sobreiros e um cerejal e na outra extremidade tinha uma enorme silveira que pendia para o caminho.
Tive o privilegio de ali passar a infância.
Convivi com a natureza de maneira plena. Com muita liberdade e segurança, no seio de uma família feliz e de muitos amigos queridos.
Quem não teria saudades de um lugar como este?
As voltas que o mundo dá.
Em Portugal, no ano 2000 se comemoraram 500 anos das grandes navegações e das descobertas feitas pelo mundo afora . No Brasil como não podia deixar de ser também se comemorou o seu descobrimento.Salvador, a primeira capital brasileira, estava em festa. No Pelourinho, tinha-se a impressão de estar numa torre de babel de tantos visitantes estrangeiros que circulavam por aqueles becos de paralelepípedos desgastados pelo tempo.
Nós mais uma vez também visitávamos a capital baiana, a convite de um casal de amigos. Nesta região central parece que o tempo não passou. A arquitetura local, muito bem conservada, é a colonial portuguesa e o povo que ali vive é alegre cantante e batuqueiro, parece ter a musica no sangue. .
Nosso amigo Santana, soteropolitano radicado em São Paulo, acompanhado da esposa, orgulhoso nos mostrava sua terra natal. Alem dos pontos mais tradidionais, outros não tão conhecidos pelos roteiros turísticos.
Dizem que Salvador tem tantas igrejas como dias tem o ano. Como os portugueses eram católicos!!...é preciso muito fôlego e disposição para conhecer... ao menos as mais importantes!!...
Mas algumas vale a pena… Desta vez tivemos sorte ao encontrar a igreja de São Francisco aberta.. É uma das mais ricas do país sendo considerada talvez o mais belo exemplo barroco português no mundo. Simplesmente deslumbrante com seu interior todo recoberto em ouro e jacarandá entalhado representando anjos, animais, flores, etc. além de vários painéis de azulejos em tons de azul que retratam cenas da vida de São Francisco, vindos de Portugal e pintados pelo mestre da azulejaria portuguesa Bartolomeu Antunes de Jesus.
Fomos a muitos lugares: Mercado Modelo, Farol da Barra, etc. Vimos a casa de Jorge Amado, passeamos pela orla de praias que vai até Itapoã e pudemos notar como a cidade havia mudado nos últimos tempos.
Num certo momento, ao passarmos por um determinado local que não me era estranho, comentei que quando viemos de Portugal nosso navio passou por ali e eu me lembrava daquele lugar. O navio havia ficado bem em frente e na minha lembrança estava muito viva a imagem de um bondinho subindo ao mesmo tempo que o outro descia. Ah... é o plano inclinado... e logo o amigo quis me levar ao topo para andar nele. Mas naquele dia estava em manutenção.
O assunto – viagem – navio – continuou e comentei também que nossa diversão era ficar no convés vendo os meninos que vinham até o casco do navio fazer malabarismo aquáticos e nos mostrar suas habilidades de mergulho. Então nós, agradecíamos atirando moedas na água. Todos conseguiam apanhá-las e depois gentilmente as mostravam na palma da mão e os mais hábeis entre os dedos dos pés.
E qual não foi a minha surpresa ao ouvir do querido amigo: Eu era um desses meninos. Sempre que chegava um navio eu vinha ao cais apanhar moedas e assim ganhar uns troquinhos. Provavelmente apanhei as moedas que vocês atiraram!!.......
Passou um filme na minha mente. Voltei lá atrás àqueles tempos da nossa grande viagem e não pude deixar de pensar: Como este mundo é pequeno e as voltas que ele dá.
Autor: Zulmira Geraldes
Um mundo novo tão diferente
Numa manhã do mês de outubro minha mãe nos acordou, a mim, à minha irmã e ao meu irmão com um entusiasmo diferente. Era muito cedo, nossa casa estava quase vazia pois grande parte dos moveis e objetos ela vendera. Havia uma grande quantidade de malas cheias e empilhadas à porta. Era dia de viajarmos para o Brasil.
Logo começaram a chegar algumas pessoas. Os primeiros foram a tia Maria Augusta, irmã de minha mãe, acompanhada do marido, o tio Antonio Salgueiro, com os filhos atrás. Sua filha mais velha, a Olímpia, viajaria conosco.
Meu pai havia ido dois anos antes com a intenção de verificar se valeria a pena a mudança da família para outro país.
Naquela época Portugal era um país pobre, dominado pela ditadura de Salazar. Diziam os mais velhos que não havia perspectivas de bom futuro pois o país estava muito atrasado e as pessoas se sentiam oprimidas. Muita gente ia embora em busca de oportunidades e o Brasil era o preferido pois vivia uma situação oposta. Governado por Juscelino Kubitschek que tinha a intenção de tirar o atraso de sua história, dizia-se que o Brasil cresceria 50 anos em 5.
Foi nesse momento histórico que lá na minha pequena aldeia chegou um primo da minha mãe, solteiro e cheio de dinheiro. As jovens das famílias mais abastadas eram todas suas pretendentes. Mas ele era tão poderoso (pensava que era) que nenhuma delas lhe servia.
Chegou a bordo de um maravilhoso automóvel e com placa do Rio de Janeiro. Era um Cadillac (rabo de peixe) azul e branco. Nunca se tinha visto algo tão moderno naquela terra tão longínqua e pobre. Onde parava as pessoas se aproximavam para admirar tal maravilha e não podiam deixar de pensar: como deve ser bom o Brasil!!!
Com isso ele estimulou vários chefes de família a abandonarem a sua terra e tentar a vida no Brasil, além de prometer mandar a carta de chamada para todos que quisessem.
Um deles foi meu pai que nessa altura ainda eram jovem. Deveria andar lá pelos 35 anos e todos nós estávamos com menos de 10 anos de idade.
Começaram a chegar mais pessoas e em pouco tempo a nossa casa estava lotada. Era uma choradeira geral. Minha mãe se despedindo e os amigos e parentes nos abraçando. Para mim e meus irmãos era diversão. Estávamos felizes em viajar. Fomos a pé até Vilar do Rei onde ficava a estação do comboio, com uma pequena multidão nos acompanhando. Eram uns 3 ou 4 quilometros.. Embarcamos rumo à cidade de Porto onde já nos esperava a tia Izabel Fonseca, prima do meu pai, e que lá possuía uma pequena pensão.
Ela morava numa rua central, cheia de edifícios que eu achava absurdamente altos. (hoje penso que não deveriam ter mais que três ou quatro andares.)Tia Izabel tinha um filho único, o Acúrcio que era estudante, de uns 18 anos. Ele ocupava um lindo quarto que ficava no sótão e de onde se tinha uma boa vista da cidade.À noite eu ficava encantada olhando dali as luzes da cidade. Nunca tinha visto nada igual pois na minha pequena aldeia nem luz elétrica tínhamos. Estávamos acostumados à luz da candeia e do lampião e agora eu me via, de repente, admirando os luminosos da cidade. Tinha um que me encantava em especial: era uma máquina de costura, costurando, costurando sem parar.. Outra coisa que me encantou foi, num edifício, uma porta giratória que parecia que engolia as pessoas para dentro, ao mesmo tempo que também as jogava para fora. Achei aquela porta fantástica e eu e a minha irmã experimentamos várias vezes entrar nela e sair.
Minha mãe preparou para nós um guarda roupa cheio de novidades. Ainda me lembro de alguns modelitos de vestidos e de um par de sapatos de verniz na cor caramelo.
Passando por uma rua, paramos na frente de uma vitrine (montra) e ela nos comprou dois pares de sandálias: um para cada uma.
Essas sandálias eu não esqueço: a minha era cor de rosa e a da minha irmã, branca. Quando chegamos ao Brasil era mês de Dezembro e verão, portanto fazia muito calor. As sandálias eram perfeitas para usarmos pois eram de plásticos e portanto laváveis. Mas eu me recusava a usá-las porque todos olhavam e eu sentia vergonha de chamar tanto a atenção. Essa sandália era a famosa Melissa que somente anos mais tarde é que chegaria ao Brasil. Hoje acredito que esse calçado, por aqui, se tenha tornado tão popular e talvez seja uma raridade encontrar uma mulher que nunca tenha usado uma melissinha.
Como sempre, nós portugueses, levando novidades às terras que nos acolhem.......
Zulmira Geraldes
40 Anos de saudades
40 Anos de saudades!
Autor: Zulmira Geraldes
Envio, apenas a titulo de curiosidade, algumas fotos que tiramos no encontro que fizemos aqui em casa.
Veja que as "meninas" de Vale de Porco são cada vez mais encantadoras!
Um encontro desses não é todo o dia que o podemos fazer, pois todos nós vivemos tão atribulados neste mundo moderno que nos esquecemos dessas “coisinhas” tão simples e, ao mesmo tempo tão valiosas da convivência com a gente querida da nossa terra.
Na verdade Vale de Porco é tão pequena que acho que quase todas somos parentes e nos sentimos assim mesmo, uma família.
Todas nós viemos de lá no finalzinho da década de 50 e anos 60. Claro, trazidas pelos nossos pais pois algumas não tinham mais que 2 ou 3 anos de idade. Outras já tinham mais, mas todas éramos ainda meninas quando viemos para cá. Acho que foi uma geração que Portugal perdeu naqueles tempos de Salazar. Estava todo mundo “vindo pró Brasil". Aqui crescemos e formamos novas famílias. Hoje nossos filhos são, sem duvida, parte da juventude que orgulha este país.
Sempre tive vontade de reunir a gente da terra aqui em casa para alegrar meu pai já velhinho (que é irmão do tio Manuel, pai do teu cunhado Antero). O tio Narciso, como todos o chamavam, gostava muito de reunir os amigos . Nos nossos primeiros tempos de Brasil a casa do meu pai parecia um centro de encontro, pois quase todos os fins de semana tínhamos visitas. Meu pai era muito alegre e querido, gostava de música e tocava guitarra e a minha mãe fazia umas comidinhas portuguesas, então tudo acabava em festa.
Mas recentemente, já viúvo e velhinho, ele foi piorando e a oportunidade foi se acabando. Há um ano e meio atrás ele se foi. Eu estava numa tristeza e com tantas saudades que conversando com a minha prima Cândida ao telefone, resolvemos marcar um encontro da turma mais ou menos da nossa idade.
Combinamos com certa antecedência para todas reservarem a data. Fomos conseguindo os contatos através de uma e outra que contactavamos e em pouco mais de um mês conseguimos encontrar todas. Somente 3 não vieram, mas na próxima tenho certeza de que vamos nos reunir todas.
Foi um encontro emocionante, movido a emoções puras, quase infantis. Algumas já nem reconhecíamos de tanto tempo sem nos vermos. Mas era só falar o nome que os abraços emocionados aconteciam e às vezes nos levavam às lágrimas. Como já não tínhamos o som da guitarra do meu pai, selecionei algumas umas músicas portuguesas desde Amália Rodrigues, Carlos do Carmo e outros até uns deliciosos viras o que inevitavelmente nos fez cair na dança E repara... todas afiadinhas.
Olhem a nossa foto dançando o vira. Não teve uma sequer que ficou sentada no sofá. Dançamos até cansar! Foi tanta, tanta, alegria que à noite nem conseguia dormir de tão feliz que fiquei! Como é bom matar as saudades!!!
Na foto temos: Acima a Fabiana com o filhinho (é filha da Candida Parreira) Depois temos: Judite (filha da tia Luzinha): Adélia (neta da tia Clarinda); Aldina (filha do Narciso e Inácia e é minha irmã); Candida (filha da Maria Eugenia e Amadeo) Lurdes (filha da tia Tereza e Manuel Tomé e minha prima); Candida Parreira (filha de Francisco Salgueiro e Umbelina) Zulmira(eu..filha de Narciso e Inácia); Julieta (filha de Antonio Carvalho); Judite( filha de Antonio Salgueiro e Maria Augusta); Diolinda (filha da tia Domicilia; Juventina (filha da Maria Eugenia e Amadeo); Natalia esposa de Manuel Duarte (este de V.deP.)..mas ela é de Vila Châ.
Nesta foto temos as "meninas" de Vale de Porco e mais algumas muito queridas que são esposas de "meninos" de Vale de Porco: Fabi e o Filhinho (filha e o netinho da Candida Parreira) a seguir: Atras em pé:Candida Parreira; Candida (filha do Amadeo); Diolinda; Aldina; Fabia(que é irmã da Felicidade e são mirandesas); Julieta;Lurdes Tomé;Natalia (esposa do Manuel Duarte)e Judite Ruivo. Na frente agachadas: Felicidade (encostada no meu ombro é esposa do Toninho ferreiro); eu Zulmira; Juventina; Judite da tia Luzinha;; e Adélia neta da tia Clarinda..
Apresentação de slides do encontro.